domingo, 27 de fevereiro de 2005

Mínimas

EDUCAÇÃO e PERUCAS
A educação e a etiqueta são coisas que atrapalham muito os diálogos. É como se todos os convidados de uma festa tivessem que usar uma peruca rosa e volumosa sem a possibilidade de mostrar os respectivos cortes de cabelo. Aquela moça de cabelo de índia, preto como um céu de lua nova, teria que usar a tal peruca rosa, em vez de refletir em cada um de seus fios de cabelo um olhar invejoso de alguém. E assim como a peruca, a educação é sem graça. Gosto de xingamentos, de falta de educação. Aliás, a indiferença é o rabo da boa educação.
MULHERES e BARATAS
Gentileza é algo ultrapassado. Não se fecha mais a porta do carro para as mulheres, não se puxa mais a cadeira de um restaurante para elas sentarem com toda graça e charme. Deixar uma mulher passar à frente em uma fila pode chegar a ser um acinte. Para elas, a gentileza tem um caso com o machismo e o machismo é algo diabólico, corrosivo, parasita. As fêmeas, da mesma forma que têm medo de baratas, têm medo de machismo. Aliás, medo não, asco. Frente às baratas, elas são tão fugazes quanto as baratas. Frente aos homens, elas são tão vigorosas quanto diz ser o homem que as irrita. Combatem as baratas com chinelos e aerosol. Combatem o machismo com tapinhas. Dão aquele famoso tapinha no ombro ou no tórax masculino, enquanto franzem o cenho e disparam a frase de condenação: "seu machista!." Note: quanto mais forte for o tapa, mais machista é a mulher.

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2005

Entre outros, o machismo


Tanto se fala em desrespeitar os padrões, quebrar os tabus, buscando a liberdade total, brilhante, daquelas que você joga os braços pra cima, sai correndo, pulando, gritando, pelado, cantando músicas do Mr. Küiytkjuz só porque ninguém canta, usando piercing na amígdala porque ninguém usa, torcendo pra Ferroviária porque ninguém torce, ou então nem cantando, nem piercingzando, nem torcendo, só correndo, porque usar, torcer e cantar são ações que fazem parte dos tabus, tabus daqueles com cara de muro. Muro pixado, com rachaduras atravessadas por uma fila de formigas carregando pedacinhos de folha, muro que precisa ser destruído a machadadas violentas. Mas será que a busca por essa liberdade azulada toda grandona, que flutua sedutoramente em uma atmosfera paralela, não é um outro murinho pixado? Será que não é outro tabu essa coisa de "AGORA VOU QUEBRAR TODOS OS TABUS"? Harmonia é uma coisa inquestionável. As músicas do Mr. Küiytkjuz não são harmônicas.

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Bang, baby, bang


Se eu fosse um diretor muito famoso, investiria minhas tripas e minha alma em um faroeste meio moderno. E colocaria uma cena com o fundo de "Lookin' Out My Back Door", do Creedence Clearwater Revival. Faroeste é o melhor gênero de filmes já inventado. Um western mistura tudo: humor com tiro na cabeça, romance com falta de escrúpulos. Um drama destilado por uma cena de um homem sem bala na arma é um drama único. A sensação após assistir um western é peculiar, imcomparável. Posso dizer que se doces representassem filmes, uma torta holandesa seria o western. E o prazer de comer o chocolate meio-amargo de uma torta holandesa é todo especial, tão especial quanto ver John Wayne apaixonado por uma prostituta em No Tempo Das Diligências (1939) ou Clint Eastwood cuspindo preto na cabeça do cachorro, em Josey Wales - O Fora da Lei (1976). Quando vi Butch Cassidy and The Sundance Kid (1969), entrei em um estado extático que rendeu um quadro com Katherine Ross e os ladrões na parede no meu quarto. Apesar do machismo notado (sem predominância ou consistência) em alguns deles, como em Meu Ódio Será Sua Herança (1969), recomendo às mulheres esse tipo de filme. Ainda não vi todos os clássicos, alguns ainda nem foram lançados em DVD. Enquanto eu aguardo, aí estão, na minha opinião, até agora, os quinze melhores:

1 – Era Uma Vez No Oeste (1962)
2 – Três Homens Em Conflito (1966)
3 - Butch Cassidy (1969)
4 – Por Um Punhado De Dólares (1964)
5 – O Homem Que Matou O Facínora (1962)
6- Os Imperdoáveis (1992)
7- Josey Wales, O Fora da Lei (1976)
8 – Onde Começa O Inferno (1959)
9 – No Tempo Das Diligências (1939)
10 – Matar Ou Morrer (1952)
11 – Meu Ódio Será Sua Herança (1969)
12 – Por Uns Dólares a Mais (1967)
13 - O Estranho Sem Nome (1973)
14- Sete Homens E Um Destino (1960)
15 – Os Brutos Também Amam (1953)

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2005

Tititi

CAMISETAS
Desde a tenra idade, nutro um certo vício cleptomaníaco. Se alguém me empresta uma camiseta, eu não devolvo, é simples. Só é necessário um certo cuidado da minha parte para que as vítimas não me flagrem, mas minha técnica já foi aprimorada ao longo dos anos e eu nunca fui abordado em hora errada. O único acidente ocorreu quando tirei uma foto 3x4 vestido com uma das camisetas, sendo essa a foto da minha carta de motorista. A vítima viu e, por sorte, era uma camiseta que eu não gostava muito, já está em processo de devolução. Fiz uma promessa a São Longuinho que cortaria esse hábito tolo. Mas as outras camisetas eu não devolvo.

MILHARAL
Tem um milharal do lado da minha casa com cerca de setenta pés de milho. Não que minha casa seja em região agrícola, pelo contrário. O dono do milharal é um pedreiro da construção ao lado, e já considero a possibilidade de negociar com este senhor.

"AH, GOSTO DE TUDO"
O ecletismo é algo que me deixa encafifado.

SIMPSONS
É uma das coisas mais belas já produzidas na humanidade.

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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2005


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domingo, 13 de fevereiro de 2005

Feira


Manhã fria de sexta-feira nublada e dois cães caolhos, vira-latas, conversavam em uma gaiola, esperando pela adoção. O caolho do olho esquerdo tinha dois anos e o do olho direito, seis. Ambos estavam cabisbaixos e com o pêlo levemente umedecido pelo orvalho da madrugada de Curitiba. O mais velho soergueu-se, olhou daquele jeito meio sem jeito para o desespero do mais novo e perguntou:
- Você já leu "Leminski Para Cães"?
- Não.
Os dois cães deitaram. O mais novo observava uma orquídea verde que estava meio perto, meio longe, enquanto lhe circulava na mente a lembrança de quando ingerira uma e tivera febre, pois mesmo sendo saborosa, era venenosa. O mais velho contemplava a soberania de uma araucária fincada em terras próximas às instalações da feira.
- Eu li, e lá diz que um cão fica mais forte quando traz uma grande dor consigo. Quiçá mais elegante.
- Pois então eu sou deselegante - disse o mais novo, correndo em círculos atrás do rabo.

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After 7 days


SANTA CATARINA

Visitem. Pode ser no carnaval.

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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2005

Momentum


Não. As conversas cruciais não são realizadas nas varandas, ao cair do sereno, ou perto de um jardim repleto de damas-da-noite, iluminado por canduras celestes. Nem na saída de um cinema, na entrada de uma peça de teatro. Não são feitas em uma mesa de pub, para que se possa pensar melhor no que mentir enquanto se toma um gole de cerveja, vinho, seja lá o que for. Os momentos graves e decisivos são, na verdade, camuflados. O hábito os esconde. O acintoso cobrador do ônibus 875-P, Barra Funda, guarda esses momentos em um bolso costurado. Um dantesco vira-lata mijando no poste guarda um deles na ponta do rabo. Uma reles pomba pode escondê-los também em seu ciscar desesperado antes de morrer esmagada por um Monza marrom. A velhinha com prolapso na válvula mitral esconde uns três no seu saco de laranjas antes de desmaiar na fila do INSS. Um ponto de táxi, um espirro homérico, um cabelo desarrumado, ombros esbarrando, um pernilongo, um outdoor do Shampoo Seda, um pão-de-queijo torrado, o tempo - tudo isso, de forma inescrupulosa, após uma miscelânea de inconveniências e impertinências, se disfarça de trivial, se veste de invisível, coisa que, na verdade, não é. E não dá pra procurar alhures um cenário mais adequado para as coisas serem ditas, pois é aí que os momentos se vão pelas ruas, assim como vai o ônibus, o vira-lata, a pomba, o Monza. E talvez a velhinha: eis a incerteza.
Agora vou me carnavalizar.

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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

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Porque quem vai lá no mar bravio, não sabe o que vai achar.

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