terça-feira, 24 de maio de 2005

Nada


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A verdade é que quando nos submetemos à determinada organização, já estamos sendo trouxas. E isso não depende da lealdade, fidelidade e confiança que se estabelece por entre os nós da relação organizador/trouxa - quando esta há. Isto não depende de nada, na verdade, considerando-se que acaso é sinônimo de nada, até que me provem o contrário. Somos regidos pelo acaso, por cães que atravessam a pista de uma estrada sem olhar, por pássaros que evacuam lá de cima sem mirar, por erros na hora de colocar o tempo do microondas, por placas tectônicas que decidem se mexer e fazer todos rebolarem, quiçá morrerem. O acaso também afeta as organizações. Antes de qualquer organização ser a culpada, os culpados somos nós, os submissos a elas, os trouxas. Ao aderirmos a alguma delas, ficamos dependentes do acaso que as atinge, e delas em si. São duas coisas, dois dramas. E como querer que as coisas dêem certo se ninguém se conhece direito nesse mundo? Se há uma eterna supressão de idéias, falas engolidas? Na foto acima, um ninho.

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sábado, 21 de maio de 2005

Uma

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Hoje UMA mulher me levou para passear.

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sábado, 14 de maio de 2005

O dia em que virei um peixe


Olhei para as paredes do meu quarto. Continuei olhando e me vi preso por saber que podia me livrar delas. Olhei então para o pôster da Serra da Bocaina e me encontrei mais preso ainda, como se os cipós daquela mata não pudessem me enforcar, como se jaguatiricas rissem de mim por serem desbravadoras, enquanto eu era apenas um curioso insaciável. Vi então os morros costeiros de Juréia sob o crepúsculo litorâneo cravando em meu esôfago um anzol de pesca de Meros, fisgando-me. Foi assim que me senti um mero Mero, pescado por algum forte punho invisível, enquanto o anzol rasgava minha traquéia, perfurava minha língua, de modo que minha glote ficasse obstruída, não podendo eu gemer ou gritar. Provei de uma sensação de lavagem, meus pensamentos eram embaralhados, passei a desconhecer o que era um relacionamento, uma carreira, um time de futebol, uma carta de sete de paus, um signo de gêmeos, uma tecla, uma cerveja e suas implicações, seqüelas, entraves, conseqüências puídas de pureza. Eu era um peixe. Todas as coisas concernentes à terra não mais perpassavam pelo meu campo de visão. Não sentia mais o doce da vida, estava na água do mar. Minha música era a da comunicação entre baleias, entre golfinhos. Vi então um pequeno peixe morto boiando e abocanhei, sem violência, contrastando com a gravidade da reação após tal ato: fui puxado abruptamente para cima, e minhas nadadeiras se empenharam em lutar contra aquele anzol, aquela linha, aquela sombra de barco na superfície me amedontrando. Era uma situação incontornável, a força era colossal, e meus 2 metros de escama não eram o suficiente. Mas eu brigava, e nesse momento me senti livre. Conforme ia chegando à superfície, minha cabeça era preenchida, lembranças dos pôsteres tomavam conta da minha mente, acompanhadas de música, música humana, coerente. Fui jogado então no chão do barco, pescadores cortaram minhas nadadeiras dorsais, pélvicas, estocaram uma lança em meu opérculo, minha visão enegreceu e eu voltei para minha cama. O pôster de Juréia olhava para mim, tornando minhas lembranças marítimas sublimes e meu colchão desconfortável.

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segunda-feira, 9 de maio de 2005

A origem dos meus males


Hoje fui à uma médica otorrinolaringologista, repleta de botox no rosto. Eu disse: "Olha, eu não aguento mais. Por que eu tenho tanta amigdalite? Por que? É porque eu tenho rinite alérgica?" Ela perguntou então da minha rinite e me convidou a fazer um teste alérgico. Sua assistente pingou 12 gotas no meu braço, e furou com uma agulha cada local pingado. Cada gota era um tipo de alergia: cigarro, álcool, pêlo de cão, pêlo de gato, pêlo de xinxila, guaxinim, ácaro, poeira, entre outros. Depois de 15 minutos (tempo que tive de aguardar numa pequena sala até meu corpo reagir às gotas), começou a me dar uma coceira terrível no braço, mas eu não podia coçar. "Não coce, Rodrigo. Só depois de a doutora analisar", havia dito a assistente. Foi então que uma mancha vermelha começou a tomar conta do meu braço, ao redor do furo da poeira. Conclusão: eu tenho uma alergia DESCOMUNAL à poeira. A origem das minhas amigdalites, segundo a doutora, é essa. Minha saúde não é frágil. Minha alergia que é absurda.

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