segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Estação: Armênia


"Mas a sua camisa é rosa!", disse uma amiga ainda dentro da balada. "Não é rosa, é laranja. É laranja, porra!", disse eu, com voz de machão. Saí da balada às 6:30 da manhã, eu e a amiga daltônica, enfrentamos o vento da manhã chuvosa de domingo. Fui agraciado com uma carona sua até o metrô Vila Madalena, pois resolvi ir direto da balada pra Campinas - decisão tomada às 5:20. Vi uns dois ou três rostos de puro infortúnio descendo a escada-rolante. Boa parte dos passageiros dormindo, mas eu não dormi, pois quando muita gente dorme ao meu lado, não consigo dormir, pessoas dormindo me dão insônia. Fitei minhas roupas, a barra da calça suja, o sapato repleto de manchas de destilados, fermentados e cinzas de cigarro absorvidas pela camurça molhada. Já minha camisa laranja continuava laranja, meio rosa, pra falar a verdade. Sentei naquele assento que fica perpendicular a outro, podendo assim esticar as pernas e pensar na vida enquanto um japonês da espécie Stands Centrus dormia de boca aberta no assento localizado à minha direita, ouvindo seu discman da Aiwa. Foi uma situação estranha, aquilo tudo representava o retrato da minha vida em São Paulo durante os dois anos de faculdade. Era uma metáfora brotando enquanto o metroviário anunciava a Estação Armênia. O sapato sujo, a camisa limpa e o Stand Center ao meu lado.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2004

Itália, Itália


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Existe um homem chamado Ennio Morricone, italiano, nasceu em Roma, compõe trilhas sonoras para filmes. Já tinha visto três filmes com a música dele: Cinema Paradiso (1988), The Legend of 1900 (1998) e Malena (2000). O primeiro é algo inexplicável, um dos melhores que já vi (talvez o melhor), a música dá sucessivos nós na garganta. O segundo, em que pese a música continuar sendo espetacular, mostra um enredo meio forçado, melodrama demais. O terceiro tem boas intenções, mas não me convenceu - só a Monica Bellucci foi capaz de mexer comigo, afinal, DEUS, que mulher é aquela?!
Até então eram três trilhas dele escutadas, todas acompanhadas de Giuseppe Tornatore, diretor italiano também. Assim sendo, decidi alugar um filme mais antigo, dirigido por outrem, mas com o toque musical de Morricone. Escolhi Once Upon A Time In The West (1968), faroeste, filme que enrolei uns dois anos pra pegar, de um diretor não menos italiano e não menos genial: Sergio Leone. Elenco de primeira linha, com Charles Bronson, Henry Fonda, Jason Robards e, abram alas, Claudia Cardinale. Enquanto percebia que estava vendo uma obra prima, tive duas surpresas. Primeira: Claudia Cardinale deixou Monica Bellucci no chinelo. Segunda: a trilha sonora bateu as três outras que já tinha ouvido. Cada personagem tem seu próprio tema, como em uma ópera. Em alguns momentos, a música acompanha sutilmente cada movimento dos atores, como no momento em que Robards apalpa a bunda de Cardinale e a canção cessa por breves dois segundos. Outro instante interessante: quando Fonda mata o filho que resta da família recém assassinada, nota-se que no momento exato do tiro, em meio a fumaça e ao estrondo da pólvora, entra o som estridente do trem que soma à cidade. É uma emenda de ruídos, não sei como é chamado isso tecnicamente, nem sei se é algo valorizado, se foi sem querer, só sei que eu achei genial.
Resumo da ópera (literalmente), o filme é maravilhoso. Só acho que sem Morricone, não seria. Sem a Claudia Cardinale então... aí esse texto nem estaria sendo escrito. E viva o Charles Bronson!

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Grace Kelly

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Na quinta-feira eu conheci uma mulher chamada Grace Kelly. Eu JURO. Na foto, a Grace Kelly de verdade.

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quinta-feira, 18 de novembro de 2004

Foo Fighters

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Estupendo.

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quarta-feira, 17 de novembro de 2004

Dúvida

Eu estava comendo um cão quente, com bastante purê. Foi então que pensei: desapego implica em deslealdade?

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segunda-feira, 15 de novembro de 2004

Magnólia

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Quarta vez.

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sábado, 13 de novembro de 2004

Idolatrá-lo


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Recentemente li um texto de Michael Kepp, jornalista americano, autor de Confissões e Desabafos de um Gringo Brasileiro. O rapaz cutuca essa louvação brasileira à Chico Buarque, começando seu texto da seguinte forma: "Perdoe-me pela pergunta tabu, mas o que pode explicar o endeusamento epidêmico de Chico Buarque?". Diz ainda que "ao colocar Chico num pedestal, os brasileiros diminuem a si mesmos".
Pra falar a verdade, mesmo gostando de Chico pra caralho, eu concordo com esse jornalista aí, que é careca. Acho que muitas vezes essa louvação ao rapaz magro de olhos azuis, tímido e que "entende as mulheres como ninguém", vem antes do gosto pelas melodias, letras, enfim, OBRA. Às vezes vêm juntas, lado a lado, mas a louvação nunca deixa de existir. Aliás, endeusar Chico Buarque na frente de uma mulher é, de certa forma, um bom xaveco (exceto em Campinas, onde é notado o efeito contrário). Afinal, se Chico apreende tão bem as ânsias femininas, esbanjar afeição por ele é um meio de demonstrar sensibilidade, gosto requintado e compreensão da alma inquieta de uma mulher: passo fundamental para chegar aos fins esperados. Àqueles fins.
Pra falar outra verdade, tem muita música do Chico que exala chatice. Aí nessa hora, pensa-se: "Ah, mas é Chico porra, preciso ouvir até o fim". E os segundos preciosos de nossa vida se esvaem pelo ralo, junto com os cabelos de Cecília, Luísa, Rita, Bárbara, Lola, entre outras. Falo isso porque um aspecto da música que eu sempre analiso é o da chatice. A letra pode ser maravilhosa, a melodia brilhante, mas se a música é chata, sem sal, não dá - e ficar ouvindo música chata só porque é Música Chata do Chico Buarque, também não dá.
Acho porém que o jornalista foi meio vago nas colocações, já que a idolatria é universal, não tem só aqui no Brasil, com Chico. Vestir a camiseta de alguém para tentar se colocar à atura desse, não ocorre só aqui. Isso tem no país dele com Frank Sinatra, na Argentina com Carlos Gardel, na França com Cabrel, em todo lugar. Resta saber se isso faz bem ou não, porque, na minha opinião, idolatrar demais faz mal à criatividade. Narcotiza.

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Pra trás

É extremamente perigoso associar pessoas a objetos, músicas, locais, filmes, cheiros, roupas, situações, jargões, principalmente quando tudo isso faz parte do seu gosto, da sua personalidade. Isso porque depois, caso a pessoa vá embora, torna-se obrigatório evitar muitas preferências. E isso é como sacrificar um pedaço da personalidade. É como ter um cão, mas não poder afaná-lo.

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terça-feira, 9 de novembro de 2004

Ando devagar


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Era um domingo, eu tinha uns 15 anos, e almoçava num restaurante campineiro de comida mineira (minha favorita) chamado "No Rancho Fundo". Enquanto quebrava aquele pedacinho de torresmo na boca, entrou no recinto um rapaz meio famoso: Almir Sater. Vestia uma capa que cobria todo o seu corpo, carregava umas argolonas na orelha. Tímido, distribuía alguns ois enquanto tirava seu chapéu preto.
Já disse e repito: o apuro musical nem sempre é linear. Não considero algo intransigente gostar ao mesmo tempo de Almir Sater e Queen, por exemplo. O gosto musical é mais empírico do que teórico, depende das situações vividas, dos cenários que preenchemos durante esses anos. E minha vida não foi só cercada por prédios, carros, CO2. Eu também já fui da roça, quando passava dias em um sítio entre Santa Isabel e Arujá (SP), num vilarejo chamado Estância Aralú. O sítio pertence a minha avó e se chama "Aralú" (falta de originalidade). É justamente desse lugar que lembro quando escuto a voz desse maldito. Mas suas letras não dizem somente sobre garças do Pantanal, carcarás e o gado fazendo a travessia. Falam de sentimentos, só que de uma maneira simples. Quem disse que quem mora no mato não tem sentimento? Esse negócio de paixão, saudade, tem no Pantanal e em Stuttgart, é tudo igual. Frisa-se também que muitas das músicas do Almir não tem um estilo caipira, ele compôs também choros, estudos, rasqueados (Tocando em Frente, por exemplo).
A lembrança do restaurante veio à tona quando semana passada vi, em um desses canais mais escondidos na grade da Tv a cabo, um rapaz que aos 19 anos LARGOU o seu curso de JORNALISMO para ser violeiro. Não lembro do nome do rapaz, mas ele faz sucesso. Da mesma forma, Sater saiu do Mato Grosso pra estudar Direito no Rio de Janeiro, local onde, ao acaso, ouviu o som da viola, ficou encantado e voltou para Campo Grande decidido a ser músico.
Não quero ser violeiro, primeiro porque não sei tocar viola, segundo porque não é um estilo musical que me agrada como os outros. A única coincidência com os casos é essa renúncia universitária, que a cada dia ganha força por entre as bandas do meu peito. É BÃO ouvir uma música como essa aqui de vez em quando:

Tava aqui pensando eu / Com a minha violinha / Se vida é bem melhor /Se levar sozinha / Do amor eu não entendo / Não é coisa minha / Tava aqui pensando eu / Com a minha meninice / Esse disse que me disse / Não nos faz feliz / Tudo isso é muito triste / Não fui eu quem quis
Sabe moça / A vida até que é boa / Mas podia ser melhor / Pra gente andar mais a toa / Mas não dá / Tem que trabalhar / Que a coisa aqui tá feia / Os homens tão metendo a mão na cumbuca / Bando de ladrão / Filhos da puta / Oh! Tristeza

"Cumbuca" (Almir Sater)

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sábado, 6 de novembro de 2004

Vulnerável

"É natural que uma catástrofe ou algo terrível que nos surpreenda em meio ao prazer nos impressione mais do que normalmente em qualquer outro momento, em parte por causa do contraste, que nos faz sentir a calamidade mais fortemente, em parte porque os nossos sentidos se aguçam e são tanto mais impressionáveis." - Goethe, em "Os Sofrimentos do Jovem Werther"
Prometo não me matar quando acabar o livro.

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quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Improviso

A beleza está no improviso.

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