terça-feira, 9 de novembro de 2004

Ando devagar


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Era um domingo, eu tinha uns 15 anos, e almoçava num restaurante campineiro de comida mineira (minha favorita) chamado "No Rancho Fundo". Enquanto quebrava aquele pedacinho de torresmo na boca, entrou no recinto um rapaz meio famoso: Almir Sater. Vestia uma capa que cobria todo o seu corpo, carregava umas argolonas na orelha. Tímido, distribuía alguns ois enquanto tirava seu chapéu preto.
Já disse e repito: o apuro musical nem sempre é linear. Não considero algo intransigente gostar ao mesmo tempo de Almir Sater e Queen, por exemplo. O gosto musical é mais empírico do que teórico, depende das situações vividas, dos cenários que preenchemos durante esses anos. E minha vida não foi só cercada por prédios, carros, CO2. Eu também já fui da roça, quando passava dias em um sítio entre Santa Isabel e Arujá (SP), num vilarejo chamado Estância Aralú. O sítio pertence a minha avó e se chama "Aralú" (falta de originalidade). É justamente desse lugar que lembro quando escuto a voz desse maldito. Mas suas letras não dizem somente sobre garças do Pantanal, carcarás e o gado fazendo a travessia. Falam de sentimentos, só que de uma maneira simples. Quem disse que quem mora no mato não tem sentimento? Esse negócio de paixão, saudade, tem no Pantanal e em Stuttgart, é tudo igual. Frisa-se também que muitas das músicas do Almir não tem um estilo caipira, ele compôs também choros, estudos, rasqueados (Tocando em Frente, por exemplo).
A lembrança do restaurante veio à tona quando semana passada vi, em um desses canais mais escondidos na grade da Tv a cabo, um rapaz que aos 19 anos LARGOU o seu curso de JORNALISMO para ser violeiro. Não lembro do nome do rapaz, mas ele faz sucesso. Da mesma forma, Sater saiu do Mato Grosso pra estudar Direito no Rio de Janeiro, local onde, ao acaso, ouviu o som da viola, ficou encantado e voltou para Campo Grande decidido a ser músico.
Não quero ser violeiro, primeiro porque não sei tocar viola, segundo porque não é um estilo musical que me agrada como os outros. A única coincidência com os casos é essa renúncia universitária, que a cada dia ganha força por entre as bandas do meu peito. É BÃO ouvir uma música como essa aqui de vez em quando:

Tava aqui pensando eu / Com a minha violinha / Se vida é bem melhor /Se levar sozinha / Do amor eu não entendo / Não é coisa minha / Tava aqui pensando eu / Com a minha meninice / Esse disse que me disse / Não nos faz feliz / Tudo isso é muito triste / Não fui eu quem quis
Sabe moça / A vida até que é boa / Mas podia ser melhor / Pra gente andar mais a toa / Mas não dá / Tem que trabalhar / Que a coisa aqui tá feia / Os homens tão metendo a mão na cumbuca / Bando de ladrão / Filhos da puta / Oh! Tristeza

"Cumbuca" (Almir Sater)

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