sábado, 13 de novembro de 2004

Idolatrá-lo


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Recentemente li um texto de Michael Kepp, jornalista americano, autor de Confissões e Desabafos de um Gringo Brasileiro. O rapaz cutuca essa louvação brasileira à Chico Buarque, começando seu texto da seguinte forma: "Perdoe-me pela pergunta tabu, mas o que pode explicar o endeusamento epidêmico de Chico Buarque?". Diz ainda que "ao colocar Chico num pedestal, os brasileiros diminuem a si mesmos".
Pra falar a verdade, mesmo gostando de Chico pra caralho, eu concordo com esse jornalista aí, que é careca. Acho que muitas vezes essa louvação ao rapaz magro de olhos azuis, tímido e que "entende as mulheres como ninguém", vem antes do gosto pelas melodias, letras, enfim, OBRA. Às vezes vêm juntas, lado a lado, mas a louvação nunca deixa de existir. Aliás, endeusar Chico Buarque na frente de uma mulher é, de certa forma, um bom xaveco (exceto em Campinas, onde é notado o efeito contrário). Afinal, se Chico apreende tão bem as ânsias femininas, esbanjar afeição por ele é um meio de demonstrar sensibilidade, gosto requintado e compreensão da alma inquieta de uma mulher: passo fundamental para chegar aos fins esperados. Àqueles fins.
Pra falar outra verdade, tem muita música do Chico que exala chatice. Aí nessa hora, pensa-se: "Ah, mas é Chico porra, preciso ouvir até o fim". E os segundos preciosos de nossa vida se esvaem pelo ralo, junto com os cabelos de Cecília, Luísa, Rita, Bárbara, Lola, entre outras. Falo isso porque um aspecto da música que eu sempre analiso é o da chatice. A letra pode ser maravilhosa, a melodia brilhante, mas se a música é chata, sem sal, não dá - e ficar ouvindo música chata só porque é Música Chata do Chico Buarque, também não dá.
Acho porém que o jornalista foi meio vago nas colocações, já que a idolatria é universal, não tem só aqui no Brasil, com Chico. Vestir a camiseta de alguém para tentar se colocar à atura desse, não ocorre só aqui. Isso tem no país dele com Frank Sinatra, na Argentina com Carlos Gardel, na França com Cabrel, em todo lugar. Resta saber se isso faz bem ou não, porque, na minha opinião, idolatrar demais faz mal à criatividade. Narcotiza.

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