segunda-feira, 29 de novembro de 2004

Estação: Armênia


"Mas a sua camisa é rosa!", disse uma amiga ainda dentro da balada. "Não é rosa, é laranja. É laranja, porra!", disse eu, com voz de machão. Saí da balada às 6:30 da manhã, eu e a amiga daltônica, enfrentamos o vento da manhã chuvosa de domingo. Fui agraciado com uma carona sua até o metrô Vila Madalena, pois resolvi ir direto da balada pra Campinas - decisão tomada às 5:20. Vi uns dois ou três rostos de puro infortúnio descendo a escada-rolante. Boa parte dos passageiros dormindo, mas eu não dormi, pois quando muita gente dorme ao meu lado, não consigo dormir, pessoas dormindo me dão insônia. Fitei minhas roupas, a barra da calça suja, o sapato repleto de manchas de destilados, fermentados e cinzas de cigarro absorvidas pela camurça molhada. Já minha camisa laranja continuava laranja, meio rosa, pra falar a verdade. Sentei naquele assento que fica perpendicular a outro, podendo assim esticar as pernas e pensar na vida enquanto um japonês da espécie Stands Centrus dormia de boca aberta no assento localizado à minha direita, ouvindo seu discman da Aiwa. Foi uma situação estranha, aquilo tudo representava o retrato da minha vida em São Paulo durante os dois anos de faculdade. Era uma metáfora brotando enquanto o metroviário anunciava a Estação Armênia. O sapato sujo, a camisa limpa e o Stand Center ao meu lado.

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