domingo, 13 de fevereiro de 2005

Feira


Manhã fria de sexta-feira nublada e dois cães caolhos, vira-latas, conversavam em uma gaiola, esperando pela adoção. O caolho do olho esquerdo tinha dois anos e o do olho direito, seis. Ambos estavam cabisbaixos e com o pêlo levemente umedecido pelo orvalho da madrugada de Curitiba. O mais velho soergueu-se, olhou daquele jeito meio sem jeito para o desespero do mais novo e perguntou:
- Você já leu "Leminski Para Cães"?
- Não.
Os dois cães deitaram. O mais novo observava uma orquídea verde que estava meio perto, meio longe, enquanto lhe circulava na mente a lembrança de quando ingerira uma e tivera febre, pois mesmo sendo saborosa, era venenosa. O mais velho contemplava a soberania de uma araucária fincada em terras próximas às instalações da feira.
- Eu li, e lá diz que um cão fica mais forte quando traz uma grande dor consigo. Quiçá mais elegante.
- Pois então eu sou deselegante - disse o mais novo, correndo em círculos atrás do rabo.

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