terça-feira, 19 de julho de 2005

Dancinha


Todas as pessoas do mundo, exceto os havaianos, deveriam ter uma dança. Uma espécie de dança da vitória, feita após uma tiradinha, após um gol do Novorizontino, após um tropeção na rua (pra disfarçar) ou após vencer uma partida de Imagem & Ação. O que for. Aliás, todos deviam falar menos e dançar mais. Se Flamínio quisesse se declarar à Calpúrnia, mostraria sua dança e não diria absolutamente nada. Calpúrnia só ouviria os sons da respiração flamínica e daquele par de adidas solando o chão na frente dela. A dança não precisaria incluir movimentos de perna: poderia ser um estalar de dedo e uma mexida diferente no pescoço. Os mais caprichosos fariam preciosamente uma ópera corporal, apresentando-a no dia de receber o diploma da faculdade - ótimo momento para se mostrar a criação. Séria ótimo instrumento para estudo psicológico. "Mostre sua dança, jovem Públio", diria Suplício, o psicanalista da Avenida dos Mal Aventurados, pronto para anotar cada movimento. Alguns dançariam com as pálpebras, outros com o quadril, mas os que não dançassem seriam colocados às margens da sociedade, meio que caindo em um abismo rosa. Não há nada mais assustador que um abismo com fundo rosa. Talvez o magnetismo paranormal que há entre certos exemplares da espécie Homo sapiens, e só.

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