terça-feira, 5 de abril de 2005

Considerações sobre Zé e Marley

Sopapo no cognitivo
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Ontem Tom Zé esteve no Roda Viva. Ano passado, quando ainda não tinha largado a faculdade, comecei a fazer uma academia lá perto de casa. Logo no segundo dia, vi um senhor baixinho andando na esteira de maneira excêntrica, voltando seus olhos fechados para cima e seus ombros para trás. Era Tom Zé. Cheguei até a revezar um aparelho com ele. Meu primo, que morava lá perto também, disse que Tom Zé morava na rua de cima e cuidava do jardim do prédio, um prédio simples. Minha vó, outra moradora de Perdizes, disse já ter encontrado Tom Zé na fila da padaria, e o elogiou por ser simpático, mas disse que ele era muito "sujinho e louco". Ele é um bom homem. Mas ainda não entendi o que ele pretende com sua música "simples, porém não ridícula". Nunca vi nada de genial na música dele. Durante várias partes da sabatina, ele se auto proclamou um gênio, falando que sua música era genial, que isso explicaria suas reles 40.ooo cópias de álbum vendidas. Mais irritante era ver os jornalistas que sabatinavam, todos com cara de "estou entendendo absolutamente tudo, tanto que até estou rindo, olha!", quando Tom Zé falava, no fundo, apenas para si mesmo. O próprio Tom Zé disse ontem: "Eu não tenho inspiração. Tenho sopapo no cognitivo!". Eu não entendo os sopapos dele.
Sem sopapo no cognitivo
Bob Marley foi um atraso para a música. É como se o ônibus do progresso musical tivesse parado muito tempo em uma área de descanso, daquelas pra caminhoneiros. Mr. Marley é um mala. Devia ser horrível viver nos mesmos ambientes que Bob Marley, ouvir sua voz gritando "I wanna love ya", em meio ao cheiro de cabelo mal lavado, prato perfeito para uma possível constituição de espécies híbridas de piolho . Claro, gosto de uma ou duas canções, aquelas mesmas que você conhece, e que qualquer molequinho de cabelo enrolado, pochete e pulseirinhas da Jamaica toca em um lualzinho de Maresias, enquanto desfruta de unzito . Aliás, nada contra quem degusta unzito, o cheiro é até agradável.
Parece que Bob Marley, em vez de catalisar, inibe qualquer "sopapo no cognitivo", como diria Tom Zé. O samba/pagode, por exemplo, não é criativo em sua grande maioria, claro, mas pelo menos é um estilo musical contagiante, que dá um estímulo na euforia, um beliscão na bunda. Agora vejamos o reggae: sempre falando de cachoeiras, paz, guerras, cachoeiras, revelação, liberdade pra dentro da cabeça, cabeça dentro da cachoeira, enfim, um pé no saco, uma cachoeira de mesmice. Bob Marley é o maior responsável por jovens contemporâneos sujarem as carteiras das escolas ao desenharem folhas de maconha mal desenhadas, escreverem citações supostamente marleyanas, tecidas por palavras como "verde da natureza", "vermelho dos meus olhos", etc. Resumindo tudo, Bob Marley foi um mala, o reggae faz mal, e hoje todos se vestem alá-Jamaica, deixando o mundo muito amarelo, vermelho e verde demais. Eu gosto da cor laranja. Aliás, acabei de desfrutar de uma gelatina de tangerina, nunca tinha provado. Recomendo.

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