segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Moon: a minha locadora


Se eu tivesse muito dinheiro, abriria uma locadora. O nome seria Moon e em vez daquele logo horroroso, quadrado, amarelo e azul da Blockbuster, o logo da minha locadora seria uma Lua, com aparência realista, de modo que fosse possível até ver suas crateras e depressões cinzas. No meio de uma avenida movimentada, uma grande Lua iluminaria a solidão dos que nada teriam para fazer em uma quarta-feira de férias, ou em um domingo chuvoso.
No interior do estabelecimento, a iluminação não seria farmacêutica, como na maioria das locadoras: seria menos reveladora, ambiente à meia-luz, com uma predominância de reflexos nas prateleiras e no caixa, somente. Não haveria pipoca de microondas e sim milho. Não seriam encontrados por lá chocolates, salgadinhos, chicletes que fazem estalinhos na boca, pirulitos do Bob Esponja, Nemos de pelúcia, e Shreks fazendo careta. Claro que haveria a parte infantil, mas sem muitas cores brilhosas, e sem a cara napuda do Aladin passando numa telinha pequena, iluminando almofadinhas no chão para crianças comerem seu Cheetos. Isso não.
- Mãe, tenho medo desse lugar! - diria uma delas, ao ver O Estranho Mundo de Jack passando em uma das tevês da locadora, em plena época de natal.
Ofereceria-se um espaço para os clientes desfrutarem do ambiente acolhedor, com mesas redondas e baixas, regadas por cadeiras magrelas de ferro. Os casais se acomodariam, tomariam um café, e diálogos como esse aconteceriam:
- Amor, vamos pegar aquele do Bertolucci, ou o vermelho do Kieslowski. Já vimos o azul e o branco dele - diz a mulher, de vestido, perfumada.
- Não bem, quero rever "Apocalipse Now"de novo, ou aquele que...
- Ah, por favor - passa a mão na perna dele.
- Tá bom vai - beija a mão da moça.
Pedidos de casamento aconteceriam por lá, com direito a dois filmes de graça para os pombos.
Um computador com acesso à internet estaria disponível em um canto do recinto, tendo como página inicial o site imdb.com. As funcionárias da locadora seriam todas morenas, introspectivas e teriam conhecimento profundo sobre cinema mundial. Todavia, os clientes que perguntassem "moça, fala um filme bom pra mim?" para qualquer uma delas, seriam educadamente convidados a se retirar por intermédio de uma loira conversadora que sairia de uma porta estilo saloon (vaivém), localizada nos fundos do estabelecimento, só pra realizar tal função.
As seções seriam personalizadas, decoradas de acordo com o estilo do filme. Na parte de Cinema Europeu, por exemplo, rosas e um perfume diferente. O italiano Cinema Paradiso (1989) teria dez cópias à disposição. As tevês mostrariam filmes razoáveis, para que os bons não fossem vulgarizados. O ar-condicionado seria intenso, mas as pessoas adorariam sentir o frio de Moon. Blockbuster iria à falência.

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